Inspire-se nas grandes empresas para ter um voluntariado influente
Para pequenas e médias empresas, o segredo está em dar tratamento de projeto estratégico.
Para pequenas e médias empresas, o segredo está em dar tratamento de projeto estratégico. Não é uma questão de recursos, mas de dedicação e persistência.
Quando se fala em programa de voluntariado, a impressão mais difundida é de algo trabalhoso, caro e só acessível a grandes empresas. Não é bem assim, segundo a especialista Raquel Coimbra.
A essência do trabalho voluntário está na doação de tempo e na permanência do projeto, fatores que estão ao alcance de grandes e pequenas empresas.
É uma questão de adaptar a escala, aproveitar a experiência das grandes companhias. Raquel é gerente de projetos do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), entidade dedicada a assessorar empresas em projetos de investimento social privado, entre os quais o voluntariado corporativo.
Iniciativas de voluntariado trazem uma série de benefícios reconhecidos pela sociedade e podem ser também aproveitados pelas PMEs.
São fatores com impacto positivo no dia a dia da empresa, como enriquecer o desenvolvimento pessoal e profissional dos funcionários voluntários, fortalecer o clima interno, melhorar o relacionamento com a vizinhança e valorizar a imagem corporativa ao associá-la com a cidadania. Em resumo, são fatores que favorecem o engajamento de quem se relaciona com a empresa.
Ainda falta clareza sobre o que é o voluntariado corporativo, confundido com caridade ou ações pontuais de ajuda comunitária. Mesmo sendo importantes, as ações sociais de um dia, a doação de dinheiro, as campanhas do agasalho e a ajuda em situações de catástrofe não podem ser confundidas com um programa estruturado de trabalho voluntário.
Dois pontos em especial diferenciam a visão moderna de voluntariado corporativo: ter como meta a transformação tanto do beneficiário quanto do voluntário e trazer um valor que seja perceptível para a empresa. Por isso, implica uma visão de longo prazo e planejamento, assim como qualquer projeto corporativo. “O voluntariado se torna relevante”, explica Raquel, “quando o dono e os gestores se envolvem com a iniciativa e conseguem ver os benefícios para a empresa.”
Em um amplo estudo sobre o assunto, Voluntariado Empresarial: do Conceito à Prática, o Conselho brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE) esclarece que o voluntariado é classificado como estando no campo da responsabilidade social por envolver um “ativo” essencial para a empresa, o tempo e o conhecimento de seu funcionário.
Por isso, este ativo precisa ser muito bem utilizado, com foco, estratégia, acompanhamento e avaliação, para garantir que o seu esforço seja recompensador nos resultados.
Não que seja fácil fazer a gestão do trabalho voluntário. Mesmo que tenha custo quase zero e nenhuma estrutura profissionalizada, a implantação de um projeto de voluntariado precisa estar cercada de alguns cuidados para ser bem-sucedida.
QUATRO EXEMPLOS
No estudo Voluntariado Empresarial: do Conceito à Prática, do CBVE, vários exemplos de grandes empresas são analisados e mostram a variedade de caminhos que podem ser seguidos por quem pretende criar um programa. A íntegra da publicação pode ser acessada aqui. Veja algumas idéias:
Mondelez Brasil – Os funcionários da antiga Kraft Foods implantaram e cuidam de uma horta orgânica no terreno de um instituição em Curitiba. Em um sábado por mês, eles plantam, colhem e encaminham a produção de legumes, verduras e temperos, usada no preparo da refeição de alunos e funcionários. Outro projeto consiste na promoção de uma agenda de eventos aos sábados em uma instituição de idosos, com uma programação de música, dança, festas, jogos etc.
Accenture – Os voluntários da consultoria prestam serviços gratuitamente, dentro de sua especialidade, para entidades sociais. Entre as especializações, estão consultoria na área de TI, apoio à gestão e criação de planejamento estratégico.
Vale – Em uma das ações da mineradora na área de educação, duplas de voluntários se dedicam a reforçar o aprendizado de matemática e português de grupos de alunos da 5º série. Eles trabalham em conjunto com os monitores de cada escola.
PwC do Brasil – Os profissionais da consultoria doam tempo e conhecimento para orientar jovens de 15 a 25 anos de um grupo de entidades. O trabalho de mentoring se concentra em especial na preparação para a vida profissional.
12 PASSOS PARA TER UM PROGRAMA DE PESO
1 Aprenda com quem sabe como fazer
No Centro de Voluntariado de São Paulo, você vai encontrar publicações, cursos e comunidades para saber por onde começar um programa e quem tem bons exemplos.
2 Procure exemplos para ver como funciona prática
Procure conversar com empresas parecidas com a sua e experientes no assunto para saber como incentivar e se preparar.
3 Valorize a ação diante dos seus gerentes
Para ganhar importância dentro da empresa, um projeto de voluntariado deve vir de cima, isto é, de você. Conquiste seus gestores para a idéia.
4 Identifique os líderes internamente
Para dar certo, o voluntariado precisa ter uma ou duas pessoas que sejam o operador, com um interesse genuíno na ação e capacidade de “puxar” os colegas. Encontrar estas pessoas é a alma do projeto.
5 Estabeleça diretrizes e dê autonomia
Junto com os líderes que você identificou, determinem os objetivos e procedimentos para as ações. Combinem de forma clara o tempo de dedicação de cada participante e a forma de comunicação. Resolvido isso, deixe que eles desenvolvam o programa e assumam a responsabilidade por ele.
6 Vá com calma nas expectativas
Não imagine que o projeto terá a adesão de 100% dos funcionários. Voluntários têm um perfil específico e, por princípio, não pode ser obrigatório. Entre as empresas experientes, a taxa de 10% de mobilização é considerada ótima. O que importa é o efeito benéfico da iniciativa no clima interno.
7 Comece com um pequeno programa
Pense mais na continuidade do que no tamanho O efeito do voluntariado acontece no longo prazo, tanto para engajar as pessoas internamente quanto testar as ações. Não adianta ter pressa. Confie na criatividade dos voluntários.
8 Escolha a causa junto com os voluntários
As possibilidades de causas são muitas – criança, educação, idoso, saúde, bem estar. Mas a escolha deve calar fundo entre os participantes e estar relacionado à sua vivência pessoal. Também pode estar ligado a uma expertise da empresa ou da pessoa. Mas não esqueça – o objetivo é a transformação humana. Por isso, não faz sentido uma ação relacionada a animais.
9 Preveja tempo para as ações dos voluntários
Mesmo que a ação não use o horário de trabalho, a organização vai ser feita dentro da empresa. A aceitação dos chefes será fundamental para que a coisa funcione.
10 Garanta o diálogo entre os voluntários e os beneficiados
Além de ser importante para o voluntário, a ação precisa ser desejada pelos beneficiários e ter um benefício de longo prazo para sua vida. Sem empatia e alinhamento de interesses entre as duas partes, o que se vai ter é um projeto imposto, com poucas chances de cumprir seus objetivos.
11 Apoie e comemore as conquistas
Divulgue dentro e fora da empresa como uma conquista dos funcionários. A comunicação é importante para engajar as pessoas e também para criar um senso de compromisso. E regularmente, faça balanços e divulgue os resultados, mesmo que pequenos.
12 Acompanhe o desenvolvimento pessoal do funcionário
Fique atento aos ganhos que a experiência vai trazer à sua equipe. Os avanços podem acontecer no trabalho em equipe, na descoberta de novas competências, na capacidade de liderança e de gestão de projetos, por exemplo.