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Investir em tempo de crise, será que é um bom negócio?

Decisões extremas como tirar todo o dinheiro do país, investir tudo em dólar, comprar tudo em ações, entre outros contrassensos, são atitudes que só dão certo por acaso, quando alguém atira no que viu e acerta no que passou despercebido.

Cada crise é diferente da anterior e não há uma fórmula fixa para escapar ileso desses momentos críticos. O primeiro ponto que deve ser evitado em cenários de crise como o atual, são atitudes de caráter emocional. Decisões extremas como tirar todo o dinheiro do país, investir tudo em dólar, comprar tudo em ações, entre outros contrassensos, são atitudes que só dão certo por acaso, quando alguém atira no que viu e acerta no que passou despercebido.

O economista e especialista em gestão e start ups, Walter Mendes lista algumas posturas comuns que devem ser sempre observadas durante uma crise e resume orientações simples e genéricas para aproveitar os momentos críticos com racionalidade, a fim de obter retornos interessantes.

De acordo com ele, as posturas que sempre devem ser analisadas durante uma crise são:

1. Designar a opção de investimento com maior liquidez possível: Pouca flexibilidade para mexer nos recursos não é boa ideia em momentos de crise que, por definição é um cenário de incerteza quanto ao futuro. Liberdade para alterar investimentos dependendo da sucessão de acontecimentos é essencial.

2. Preservação do capital deve ser uma prioridade: O retorno das aplicações deve se tornar secundário, pois o retorno dos investimentos envolve assumir riscos, que são potencializados durante uma crise. Eles podem se tornar muito maiores do que o padrão histórico para o ativo em questão.

3. Vincular os investimentos em moeda estrangeira às suas despesas previstas: Se há uma previsão de fazer pagamentos em moeda estrangeira (como uma viagem ou curso no exterior, por exemplo) dentro de um prazo de 12 meses, calcule o valor total de gastos e compre a moeda, ou mesmo pode-se investir em um fundo mútuo de liquidez diária, indexado ao Dólar ou Euro. Não deixe para investir apenas quando o preço estiver mais baixo, pois não é possível antecipar o caminho do câmbio. É como adquirir um seguro (ou Hedge, como é chamado no mercado financeiro).

4. Prefira instituições financeiras mais sólidas, conhecidas e de grande porte: Investir em fundos geridos por uma instituição pouco conhecida, mesmo que de grande porte, seja ela estrangeira ou nacional, é um grande risco. Como na crise dos bancos em 2008, grandes instituições como o Lehmann Brothers quebraram e, sendo assim, eleger a instituição com a qual vai investir baseado na solidez e no conhecimento do seu histórico é sempre a melhor opção.

Esses princípios, no presente momento da economia brasileira, levam o investidor a concentrar seus recursos em aplicações com liquidez diária, em fundos geridos por grandes bancos ou títulos do tesouro direto atrelado à Selic, todos preservando a segurança e liquidez do investimento.

Mas ainda resta uma pergunta: Será que não existem oportunidades interessantes de investimento geradas pela crise? A resposta é Sim e são muitas, mas infelizmente só é possível avaliar adequadamente depois que a crise passa. A dificuldade está justamente em administrar os riscos e movimentações de forma racional e minimamente segura dentro do cenário nebuloso e de incertezas.

Algumas orientações simples podem ser seguidas para tentar aproveitar os momentos críticos e possivelmente surfar nas ondas da crise com um mínimo de racionalidade. Os mais jovens, por exemplo, podem correr mais riscos ao investir em busca de um retorno maior no longo prazo, pois têm tempo hábil para recuperar uma eventual perda financeira. Porém, à medida que a idade do investidor aumenta, a proporção dos investimentos de maior risco deve ser reduzida.

Para estabelecer uma divisão entre os ativos de risco e os mais conservadores e calcular o percentual máximo de aplicações de maior risco na composição da carteira de investimentos, pode ser usada a seguinte regra: tome como base 80 anos menos a sua idade; a diferença obtida será a proporção máxima de ativos de risco em sua carteira. Dessa forma, se você tem 20 anos, sua carteira poderia conter até 60% de ativos de risco; aos 40 anos, 40%; aos 60 anos, 20%; e aos 80 anos, zero. Essa estratégia de alocação é útil para investimentos em ações, que conta com um mercado organizado e transparente. Além disso, há muitas opções de fundos geridos por instituições sólidas e com longo histórico.

Uma das razões para usar essa regra conservadora é que o Brasil tem historicamente uma alta taxa de juros real paga pelos títulos do governo de curto prazo, permitindo a existência de fundos com liquidez diária, que pagam percentuais de rendimento muito próximos à Selic. Quanto maior a taxa de juros real paga pelo chamado ativo sem risco, menor deve ser sua parcela em ativos de risco. “Essa é uma regra cuidadosa, usada universalmente, além de ser uma disciplina particularmente recomendável em países de economia historicamente menos estável, como a nossa”, afirma Walter Mendes.

Investir em tempos de crise como a atual, requer passos mais calculados, porém orientações básicas ajudam a alcançar maior segurança e racionalidade, sem deixar de pensar no retorno desses investimentos. Tais dicas podem ser usadas em qualquer tempo e sempre trarão benefícios ao investidor.

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