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Período sabático: hora de dar uma pausa

As histórias de empresários que mudaram suas trajetórias profissionais quando decidiram parar com todas as atividades para viajar pelo mundo

O livro Comer, Rezar, Amar relata a história verídica da jornalista Elizabeth Gilbert. Após enfrentar problemas pessoais, ela vendeu todos os seus bens e passou um ano viajando pela Itália, Índia e Indonésia. A obra foi um grande sucesso mundial com mais de oito milhões cópias vendidas.

A prática de pausar todas as tarefas para repensar a vida pessoal ou profissional se tornou mais comum nas últimas décadas. No mundo acadêmico e empresarial, essa interrupção é conhecida como período sabático.

O termo deriva da palavra shabat ou sabat, que significa a pausa semanal feita pelos judeus. Durante o pôr do sol da sexta até o pôr do sol do sábado, os praticantes da religião se abstêm de fazer qualquer tarefa para repousar e refletir.

O período sabático não significa necessariamente fazer uma viagem, pode ser também um hiato para realizar uma atividade diferente ou para não fazer nada.

Algumas empresas, como o Google e a 3M, oferecem essa oportunidade para alguns funcionários. Mas elas são uma exceção. A maioria dos contratados acaba pedindo demissão para conseguir realizar uma pausa.

DE FUNCIONÁRIO A EMPREENDEDOR

Aos 26 anos, Jorge Mira achava que tinha uma vida profissional confortável: trabalhava numa multinacional na área de vendas de listas telefônicas. Mal ele sabia que esse negócio estava fadado a desaparecer.

Quando a empresa fechou o setor onde ele trabalhava e decidiu transferi-lo para área de logística, Mira recusou. Ele tinha um sonho maior: viajar.

Hoje, aos 40 anos, Mira – sócio da Planet Partners, empresa que presta serviços jurídicos e ajuda empresas estrangeiras a estabelecerem negócios na América Latina – não se arrepende de ter largado tudo.

Quando quis tirar um período sabático, não tinha muitos planos. “Na época, o filme Senhor dos Anéis tinha estreado nos cinemas e eu adorei as paisagens”, diz Mira.

"Descobri que ele tinha sido gravado na Nova Zelândia e decidi que esse seria meu destino.”

Em uma semana, ele comprou a passagem e arrumou as malas. Durante os quase dois anos em que esteve no país se dedicou a um de seus hobbies: cozinhar.

Mesmo sem experiência, conseguiu um emprego num restaurante neozelandês. “Durante esse período aprendi muito sobre trabalhar sob pressão”, afirma Mira. “Foi um período difícil, mas de muito aprendizado.”

Voltou para o Brasil com 29 anos, decidido a exercer algo relacionado com sua formação de administrador de empresas. “Queria empreender e ter o controle da vida profissional”, afirma Mira.

Dessa forma, surgiu a Planet, empresa fundada em sociedade com seu pai. Mira acredita que esse período sabático foi fundamental para ter uma visão mais humilde.

SABÁTICO: NOVAS OPORTUNIDADES

Nascido na Áustria, Hans Scholl, hoje é sócio fundador da MetroFit, empresa que aluga boxes para armazenamento no Brasil.

Mas ele já teve outros negócios. Quando ainda estava em seu país de origem, ele e a irmã tinham uma empresa no setor de construção civil. Há sete anos, ele vivia uma situação difícil: estava preso às funções operacionais desse negócio e se sentia exausto. Para piorar a situação, o relacionamento com a irmã não estava indo bem.

Foi quando ele optou por fazer uma pausa e viajar por cinco meses. O destino escolhido foram os países do sudoeste asiático, como Laos e Vietnã. “Não há muito tempo para pensar estrategicamente quando você está preso a uma rotina”, diz Scholl.

O empresário passou experiências que o fizeram refletir sobre seu negócio. “É um período que te faz pensar fora da caixa”, afirma.

Quando voltou para Áustria, decidiu vender a empresa que tinha junto com a irmã.

“Além de um momento de reflexão, o sabático traz o conhecimento de outras culturas e isso ajuda a inovar dentro das empresas”, afirma Scholl. Ele é a prova disso. A ideia para seu negócio atual começou durante uma viagem pelos Estados Unidos.

Os americanos têm o hábito de guardar objetos em depósitos – quando eles não cabem mais dentro de casa ou quando não são usados no dia a dia. Esses boxes são alugados por uma quantia mensal e apenas o proprietário tem acesso.

Por motivos pessoais e oportunidades de negócio, Scholl decidiu morar no Brasil e trazer esse formato de armazenamento para São Paulo – cidade na qual os preços do metro quadrado são altos e há falta de espaço disponível.

Ele acredita que realizar um período sabático é fundamental para os empresários. “Sair da zona de conforto é algo que promove muito crescimento”, diz Scholl.

CAMINHO DE SANTIAGO: ROTA PARA EMPRESÁRIOS

O período sabático não precisa durar anos. Há empresários que tiram curtos períodos, mas têm experiências profundas. Um dos destinos escolhidos para esse tipo de viagem é o Caminho de Santiago de Compostela – uma das rotas de peregrinação mais antigas.

Todos os anos, entre 30 a 50 mil peregrinos percorrem as rotas que levam até a catedral espanhola. Alguns têm motivos religiosos ou místicos, mas muito vão apenas pelo desafio.

O jornalista Daniel Agrela fez o caminho duas vezes. Após essa experiência, ele escreveu o livro O Guia do Viajante do Caminho de Santiago e hoje ministra um curso que ajuda pessoas que querem fazer o percurso. “É um período em que tudo fica suspenso, a única preocupação é caminhar”, afirma Agrela.

O perfil do público é bastante variado, mas de acordo com Agrela o número de empresários que escolhem fazer essa viagem é bastante grande. “São pessoas que sofrem grande pressão e precisam de momentos para refletir”, diz.

Nágela Franccini faz parte desse grupo. Formada em administração e biomedicina, ela fundou a empresa Fran Pesquisa e Informação, que recruta pessoas para pesquisas de mercado.

Em dezembro do ano passado, foi incentivada por uma amiga a fazer o Caminho de Santiago. Realizou o percurso em abril deste ano. Como parte do planejamento, ela diminuiu a quantidade de projetos que iria pegar no mês da viagem e delegou algumas tarefas para funcionários.

“Neste período consegui esvaziar a cabeça, diminuir o stress e a cobrança. Foi uma experiência de vida”, afirma Nágela.

Desde que voltou de Santiago de Compostela, a empresária decidiu diminuir o ritmo de trabalho. “Costumava ficar à disposição da empresa 24 horas por dia. Agora quero ter mais tempo para mim”, diz.

A empresária está planejando fazer mais viagens como essa. A próxima deve ser a caminhada na Chapada Diamantina, na Bahia.

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