Transtornos mentais são a terceira causa de afastamento no trabalho, aponta especialista
Especialista explica como a pandemia afetou a saúde mental das pessoas, refletindo principalmente no trabalho, e o que é preciso praticar para controlar a ansiedade e depressão
O distanciamento social foi extremamente importante para conter a disseminação do vírus da Covid-19 e não só isso, também proporcionou muitas coisas positivas, como a flexibilidade e uma relativa melhoria da produtividade com o trabalho remoto. Porém, não se pode negar que o afastamento trouxe sérios problemas para a saúde mental dos brasileiros, aumentando consideravelmente os casos de ansiedade e depressão.
O psicólogo e professor do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, Renan V. de S. Rocha, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), diz que mesmo antes da pandemia o Brasil já era o país com a maior taxa de pessoas com transtornos associados a ansiedade no mundo inteiro, o que representa 9,3% da população, além de ser o quinto país em casos de depressão, afetando 5,8% dos habitantes.
“Com a pandemia da Covid-19, a tendência é que esses dados tenham se tornado ainda mais preocupantes, tendo em vista os elementos que acompanham esse cenário, como: o trabalho presencial em meio à pandemia, o distanciamento social, o home office, as medidas de higienização e segurança, entre outros. Basicamente são todos os aspectos que não faziam parte do cotidiano do povo brasileiro”, afirma.
Para Rocha, a população brasileira é profundamente marcada por dois grandes tipos de sofrimento que a afetam diretamente: ansiedade e depressão. O psicólogo enfatiza que quando se trata de saúde mental, estamos falando de transtornos, pois isso significa cultivar hábitos saudáveis, mas a maneira como a sociedade pensa em saúde mental se passa muito por um conjunto de sinais e sintomas que vão influenciar diretamente a vida do ser humano.
“As pessoas que sofrem com ansiedade podem apresentar sinais físicos, como pressão no peito, sensação de sufoco, taquicardia, tremores, e sintomas emocionais, como medo intenso, choro repentino, preocupação excessiva e hiperatividade mental. Já quando se trata de depressão, falamos de sintomas físicos como falta de energia, problemas para dormir, falta de concentração, transtornos do apetite, sintomas emocionais como sensibilidade e irritabilidade, baixa autoestima, tristeza e sintomas mentais como esgotamento mental, além de visão catastrófica e mais uma vez alguns sintomas relacionados ao espectro do trabalho.”
Rocha demonstra com estimativas pré-pandêmicos da Associação Brasileira de Psiquiatria — ABP que 17 milhões de pessoas, ou 9% da população brasileira, sofreram de transtorno mental grave. Os mais atingidos foram os indivíduos de classe social baixa, pouca escolaridade e moradores das periferias das grandes cidades. Desse número, 64,5% das pessoas com transtorno mental grave utilizam os serviços públicos de saúde e apenas 33% conseguiram ser atendidos em até 1 mês.
“No Brasil, transtornos mentais e comportamentais são a terceira causa de incapacidade e afastamento de trabalho, pois cerca de: 20% dos colaboradores ativos estão sob forte pressão; 30,67% de pagamento de auxílio doença corresponde a episódio depressivo; aproximadamente 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do estresse; 44% dizem ter sofrido de esgotamento mental; 49% já tiveram crises de ansiedade e para compensar, transtornos de ansiedade causam cerca de 79% dos afastamentos”, aponta o professor do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul.
Durante a pandemia, muitos brasileiros relataram estarem extremamente preocupados com a Covid-19 e afirmaram que tinham dificuldades para relaxar. Por esse motivo, não conseguiam dormir bem. Fatores como a precarização do trabalho, transição compulsória para o home office e o medo do desemprego e da fome foram os aspectos que mais preocuparam a população.
“Temos, portanto, uma sociedade que vinha adoecida, se percebeu doente na pandemia e tem se percebida preocupada, adoecida nesse contexto pós-pandêmico, por isso é importante o autocuidado, que é um conjunto de atitudes no cuidado de si mesmo e dar valor aos pensamentos e emoções, na tentativa de administrar melhor ou até mesmo solucionar situações de incômodos por vezes mal resolvidas.”
O especialista cita alguns tipos de cuidados que ajudam no combate contra a depressão e ansiedade, melhorando a saúde mental. São eles:
Físico: cuidado do corpo, prática de exercícios, alimentação saudável e dormir bem;
Mental: cuidar do cognitivo e dar abertura ao conhecimento, ter momentos de lazer, fazer atividades que estimulem a criatividade e ler um livro, por exemplo;
Emocional: cuidado da mente e dos sentimentos, psicoterapia, autoconhecimento e autoperdão;
Social: se rodear de pessoas que te apoiam, não se isolar e promover empatia e solidariedade.
Rocha finaliza sugerindo algumas dicas: “não ficar o tempo todo conectado com as notícias, pois isso pode causar preocupação e incertezas. Praticar exercícios físicos e se alimentar de forma saudável, relaxar, praticar meditação, além de evitar o abuso de álcool ou drogas. Praticar resiliência, fazer coisas que você gosta, colocar as coisas em ordem, tentar estabelecer uma rotina, se conectar com pessoas e pedir ajuda se precisar. Tudo isso faz a diferença na saúde mental e física.”